“Os
Engenheiros Rebouças”
Poucos conhecem a rica vida dos irmãos
André (1838-1898) e Antonio (1839-1874) Rebouças, negros, baianos,
que viveram em pleno período da escravidão e estavam à frente de
seu tempo, principalmente André.
Em Curitiba, por exemplo, há um
bairro que leva o sobrenome dos irmãos baianos, e uma rua com a
curiosidade de ter num extremo a Arena da Baixada, estádio do
Atlético Paranaense, e quase na outra o estádio Durival de Brito,
do Paraná Esporte Clube. Seguramente os moradores do bairro e
torcedores não relacionam o nome bairro e a rua com os irmãos
homenageado.
Outros talvez lembrem que os irmãos
Rebouças foram idealizadores da Estrada de Ferro Curitiba-Paranaguá;
André contaria que em janeiro de 1865, num mapa da sala de espera da
Secretaria da Marinha, do Rio de Janeiro, observava que Assunção no
Paraguay e Antonina, no litoral paranaense, ficavam no mesmo
paralelo. E, entusiasmado, lança a seu pai a ao restante da família,
a idéia de ir com o irmão Antonio, abrir uma estrada de ferro que
já chamava de “Vale de Curitiba”.
O sonho dos irmãos pela estrada de
ferro permaneceu latente e foi perseguido até que finalmente em
janeiro de 1871 em audiência especial o Imperador D. Pedro II os
recebe para comunicar que lhes havia concedido autorização para
construir o “Caminho de Ferro de Antonina a Curitiba”, cujos
estudos Antonio iria concluir no mês de maio do mesmo ano.
Deixar os mais de 900 metros de
altitude de Curitiba até o litoral, cruzando a Serra do Mar foi
considerado impraticável, mas entre 1880 e 1885 a ferrovia foi
construída e lá está, firme e forte.
Os dois irmãos foram pela primeira
vez à Europa em viagem de estudos entre fevereiro de 1861 e novembro
de 1862. Na volta, partiram para trabalhar na vistoria e no
aperfeiçoamento de portos e fortificações litorâneas.
Na guerra do Paraguai, André serviu
como engenheiro militar, nela permanecendo entre maio de 1865 e julho
de 1886, quando retornou ao Rio de Janeiro por motivos de saúde.
Passou então a desenvolver projetos com o irmão Antonio, na
tentativa de estruturação de companhias privadas com a capitação
de recursos junto a particulares e a bancos, visando a modernização
do país.
André projetou e realizou o
abastecimento de água na cidade do Rio de Janeiro, enfrentando
trambiques dos distribuidores de água e a inoperância de outros
protegidos do império. Atuou como membro do Clube de Engenharia e
muitas vezes foi designadas para receber estrangeiros, por falar
inglês e francês.
Na década de 1880, André Rebouças
se engajou na companhia abolicionista e ajudou a criar a sociedade
Brasileira contra a escravidão, ao lado de Joaquim Nabuco e José do
Patrocínio.
“Paiz da apathia”
Quando a republica foi instaurada em
15/11/1889, André embarcou com a família imperial, com destino à
Europa.
Por dois anos, ele permaneceu exilado
em Lisboa, como correspondente do “The Times” de Londres.
Transferiu-se, então, para Cannes, na França, até a morte de D.
Pedro II.
Suicidou-se dia 9 de maio de 1898 e
seu corpo foi resgatado na base de um penhasco próximo ao hotel em
que vivia em Funchal, na Ilha da Madeira. Seu irmão falecera em maio
de 1874, vítima de malária adquirida quando trabalhava na
construção de uma ponte sobre o Rio Piracicaba (SP).
Embora grande amido de D. Pedro II,
André Rebouças escreveu sua experiência com os burocratas e
oligarcas do império. Ele definia o Brasil da época como o “paiz
de apathia e de immobilidade”, devido à subserviência, ao
subdesenvolvimento, ao analfabetismo dos funcionários públicos
encarregados de tomar decisões cruciais para a nação.
Enxergando longe...
Como vira a modernidade capitalista
pipocar na Europa, durante seu estágio de dois anos para se tornar
engenheiro civil, via no Brasil uma classe dirigente medíocre tomar
corpo. “uma oligarquia estulta (insensata) reduziu este país
fertilíssimo a um estéril deserto, com uma só arvore – o
monopólio governamental”.
- “O que falta a este império, como
a todos os países do mundo, é capital, é indústria, é trabalho,
é instrução, é moralidade”.
Uma de suas críticas mais
contundentes era contra o espírito contrário à criação de novas
empresas num país ainda escravocrata, onde iniciativas empresarias
eram barradas com argumentos os mais mesquinhos.
- “Como se ainda fossem poucas as
inúmeras dificuldades naturais, que são outros tantos obstáculos
ao estabelecimento de indústria em um país novo, como o nosso, cada
empregado público julga ser de seu rigoroso dever combater, a ferro
e fogo, as companhias. É o que eles chamam-matar a hydra do
mercantilismo”!
Sugere mediadas de impacto – Como o
incentivo à imigração européia – “para desenvolver o país
vasto, apático e incapaz de dar uma volta por cima apesar da riqueza
natural incomensurável.
Se bate firme pela educação e
crítica violentamente e a tendência ao engordo, à preguiça a o
desmazelo da jovem nação tropical.
-“É necessário educa a geração
que cresce, para a agricultura, para a indústria, para o comercio.
Numa palavra, para o trabalho”.
Fonte:
Boletim Informativo do Sistema FAEP n°1242 – Semana de 18 a 24 de
novembro de 2013, p.15.
Transcrito
por: Marcos Antonio de Freitas
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